Resumão do iMasters Interminas 2010

BH recebeu no sábado, 24/04, mais uma vez o iMasters (aqui chamado de Interminas). Entre 250 e 300 participantes (no auditório cabem, no máximo, 403) assistiram a oito palestras abordando temas como redes sociais (claro), criatividade, e-commerce, inovação, colaboração, links patrocinados, planejamento, webmarketing político e investimentos em startups digitais. O evento aconteceu durante o dia inteiro no Ouro Minas e contou com a participação de profissionais do mercado web mineiro e estudantes. Aqui você acompanha um resumo básico e minhas impressões sobre o iMasters Interminas 2010.

Sou a favor da expressão "primeiro a gente bate, depois a gente assopra", então por isso vou começar com o que considero como pontos negativos do evento:

- Não levei smartphone nem notebook (acredite, não tenho), o que me fez me sentir um excluído digital, já que todas as perguntas só podiam ser feitas via Twitter. Até quem não estava no evento poderia participar, desde que seguisse a hashtag #interminas. O problema é que, por se tratar de um evento presencial, as perguntas presenciais deveriam ser valorizadas. Se não o evento podia muito bem ser feito remotamente, transmitido via streaming com participação via Twitter, reduzindo custos com transporte, hospedagem, lanche, etc.

- Perguntas interessantes deixaram de ser feitas presencialmente e, ao fim das palestras, o Gil Giardelli (apresentador) lia comentários dos participantes feitos no Twitter com a hashtag #interminas. Tá, alguns engraçadinhos, mas outros que só serviram pra fazer o (curto) tempo passar como quem paquerava quem no twitter, outro que fazia mershan no microblogging, comentários sobre filtros de linha, velocidade da internet e por aí vai... Sem falar nos papagaios que só ficavam pinçando frases dos palestrantes. Salvou-se uma ou outra twittada mais inspirada.

- Quem já leu outros resumos meus de eventos aqui no blog sabe que eu sou meio careta em relação ao uso da web em eventos presenciais. Acho um pouco falta de respeito com o palestrante o público se entreter com outras coisas enquanto o cara fala. Por outro lado, admiro quem consegue navegar e prestar atenção à palestra ao mesmo tempo. #toficandovelho

- Achei o tempo dedicado ao networking, uma das premissas do evento, um pouco escasso. Apesar de ter encontrado com o Marcão da 18, o Tiago Baeta do iMasters, a Raquel Camargo do TwitterBrasil, o Henrique e o Lucas da Taxi, Negreiros e Miqueri da PlanB, Tatiana da Multiweb, Marlos da 5Clicks, o Frank Martins da Itatiaia, o Fábio da Sectes, o Luis do SMS2Blog, o Marcio da Bhtec, a Lu do GuiaBH e o Schubert da Multitexto, queria ter encontrado muito mais gente que estava lá como a Sabrina Almeida, a Fernanda Braga, o Guilherme Braune, a Letícia Flávia, o Renato Amarante, entre outros. Apesar do almoço ter durado 01h30, o caminho de ida e volta até o Minas Shopping (ponto de almoço extra-oficial) leva um tempinho bom, né... Mesmo o coffee break foi bem curtinho. E falar de boca cheia é falta de educação ;-P

Agora os pontos positivos:

- Acabou-se aquela confusão do ano passado com palestras simultâneas. A sensação de estar em uma palestra sem saber se a do lado estava melhor e ficar trançando entre uma e outra era angustiante... um entra e sai danado, disperso. Esse ano foi tudo concentrado num só lugar.

- Palestras de alto nível. Alguns temas saindo do lugar-comum. Todos os palestrantes muito simpáticos. E palestrantes diferentes também. Quando se fala em palestra web em BH, vêm sempre os mesmos caras como Luli, Caio Cesar, Cris Dias, Gazel, Bruno Rodrigues, etc. Nada contra eles, por favor! Se dão muitas palestras, é claro que são referência. Mas é bom variar e o Interminas desse ano variou bem.

- Incluir o tema "Política na web" em um ano eleitoral. É o tipo de assunto que eu me pergunto porque não foi incluído desde o início (o próprio site do iMasters não atualizou a programação). Mérito do Alexandre Stanislau e do Quinta Digital.



Vamos às palestras, separadamente:

1ª Palestra: Percepção das Redes Sociais: Cuidados e Oportunidades - Edney Souza (Interney), Diretor de Operações da Polvora Comunicação

Cheguei um pouco (muito) atrasado e perdi grande parte da primeira palestra. Uma pena, pois disseram que foi uma das melhores. Mas cheguei a tempo de pegar o Edney falar que o RT no Twitter e os publieditoriais em blogs funcionam, "desde que o RT seja com seu público-alvo e o publieditorial seja identificado como tal". À essa altura (por volta das 10h15), segundo o Gil Giardelli, o evento já era trendtopics no Twitter, "apesar disso não significar nada, mas nossos patrocinadores agradecem", brincou.

2ª Palestra: Mais do que Criativo, seja um Partner das Agências Digitais - Matias Feldman, CEO da Workroom e coordenador do CrossTalent no Brasil e Argentina

Criatividade = construção de relacionamento digital. Tem que ter uma conexão real com o consumidor. O argentino Matias Feldman apresentou cases bacanas de aproximação do consumidor com a marca como do Ágile (GM), Banner Concerts (Dexia, Bélgica) e da Puma (ponete la roja). Esse case específico da Puma para o Independiente da Argentina eu achei meio manjado. É fácil engajar torcedores de futebol. Eles já são naturalmente engajados. Ninguém muda de time como muda de marca... O fator emocional já está lá, contido, só esperando para ser libertado. Matias tocou num ponto crucial: o envolvimento da marca com a agência, a agência vestindo a camisa mesmo, sendo parte da empresa enquanto dura a ação e não apenas mais um fornecedor. O cliente sente a diferença...

3ª Palestra: E-Commerce e as Novas Técnicas de Interação - Pablo Ibarrolaza, Gerente de TI para E-Commerce, Walmart Brasil

"Se você tem namorada(o), dorme mais de 8 horas por dia e tem final de semana, e-commerce não é pra você". Com essa frase o Pablo começou sua fala, garantindo o interesse maior de quem não se encaixava nesse perfil. Ele questionou o que vem a ser "interatividade", afirmando que ainda não há uma definição única, já que existem vários tipos de interação máquina/usuário/mensagem. Falou sobre os resultados de busca em sites de e-commerce, URLs personalizadas para cada resultado, busca orgânica, páginas inválidas (que seria um erro imperdoável) e os encurtadores de endereço. Citou ainda Mcluhan, um dos grandes filósofos da comunicação, que cunhou termos como "o meio é a mensagem" e "aldeia global": "Moldamos nossas ferramentas e, posteriormente, nossas ferramentas nos moldam".

A parte mais interessante da fala de Pablo foi quando ele incluiu as redes sociais na palestra. Segundo ele, cadastros em e-commerce se desatualizam rapidamente. O ideal seria integrar os cadastros das redes sociais, que são mais atualizadas e com informações sobre as atividades da pessoa, seus amigos, etc. Seria o social e-commerce. O grande desafio será usar o grafo social (como se mapeia) e um sistema que o público brasileiro adoraria (sistema de pechincha, em que se poderia negociar o desconto).

4ª Palestra: Inovação colaborativa - René de Paula Jr, UX Evangelist da Microsoft

René já começou a palestra "inovando", dizendo que não usaria nenhuma apresentação. Foi só fala e algumas imagens alheias no telão. Para René, não há altruísmo na rede. As pessoas sempre querem ganhar algo em troca, nem que seja prestígio. Não tem mágica.

Depois falou da diferença de uso de uma mesma rede social por diferentes culturas, exemplificando com o uso que os brasileiros fazem do Orkut e que os americanos fazem do Facebook. "Quando o Orkut Büyükkokten, engenheiro turco do Google, inventou o Orkut, ele imaginou que as pessoas de classe C e D no Brasil marcariam de se encontrar remotamente em lan houses (de onde vem 50% do tráfego brasileiro de internet) para postar no YouTube as fotos e videos que fizeram com seus celulares pré-pagos?". René nos fez pensar nas diferenças dos modelos das duas plataformas (Orkut e Facebook). "O Orkut é o abrigo dos homeless digitais", filosofou.

O prestígio no Orkut vem da quantidade de amigos que você tem. Muito provavelmente porque isso é um fator relevante de prestígio na Turquia, mas não é nos EUA, onde sua cultura mais individualista faz valer muito mais o que você é (e o que você tem) do que os amigos que tem ou a opinião dos seus amigos a seu respeito. Por isso o perfil do Facebook é todo voltado para o "eu isso", "eu aquilo". Interessante! "É preciso cada vez mais entender não só as tecnologias, mas as pessoas", profetizou.


Parábola da torneira: René comentou sobre uma história de Hagar, o horrível, em que ele foi a Roma e trouxe para sua amada uma torneira dourada. Ao abrir a torneira e ver que não saia nem uma gota, ele bradou "mas lá em Roma saía água". O que ele quis dizer com o "causo" é que os romanos tiveram todo o trabalho de represar a água, construir tubulações e levá-la até a cidade. A parte mais fácil foi colocar a torneira. Assim deve ser nas redes sociais: é preciso pavimentar o caminho antes de querer abrir a torneira dourada e ver sair água (dinheiro) dela. René criticou ainda o fato das pessoas, só porque usam as redes sociais, se auto-intitularem "analistas de mídias sociais". "Seria o mesmo que um cara que vê filme pornô o dia inteiro dizer que é um bom amante", condenou. E provocou: "Se os problemas se repetem todo dia, é porque não estamos inovando".

5ª Palestra: Construção de marca utilizando mídia online, relacionamento e links patrocinados - Julien Turri, CEO da Hi-Midia



O share de mídia web na Inglaterra é o maior do mundo (20% do total). No Brasil, é algo em torno de 4% apenas. Os usuários brasileiros gastam, em média, nos seis maiores portais do país cerca de 20% de seu tempo online, 5% em buscadores, 5% outros e 70% em sites, comunidades e instant messengers. Atingir esse 70% do tempo do usuário é mais barato e mais eficiente, segundo Julien, que citou como boas ferramentas de mensuração o Google Insights For Search e o Google Analytics. "Todo site é um veículo em potencial", acredita, dizendo que é importante trackear tudo. "Vem aumentando o número de pessoas que entram em sites vindos do Twitter e do Facebook, já o Google tende a manter uma média de crescimento", analisou Julien, que citou um case de uso do Twitter nos EUA para prever bilheterias de cinema com mais de 97% de acerto. Essas ações já vem sendo usadas por alguns estúdios de Hollywood. A acertividade do uso do Twitter é muito maior que pesquisas de opinião ou análises de críticos, usadas até pouco tempo para prever se um filme seria um sucesso ou não.

6ª Palestra: Marketing Político, direito e política na internet - Alexandre Atheniense, Bruno Hoffman e Tales Sarmento

Por eu ser também um profissional da área e um entusiasta do assunto, talvez esta tenha sido a palestra na qual eu mais apostei as fichas, afinal, estamos em ano eleitoral! Talvez tenha sido expectativa em excesso da minha parte, mas achei que essa deveu (talvez seria o caso de um evento só sobre webmarketing político). Após uma longa apresentação sobre o projeto Quinta Digital (do qual o blog Mercado Web Minas é parceiro desde a primeira edição), seus patrocinadores e uma explicação sobre como perguntar via SMS, Alexandre Stanislau apresentava algumas perguntas no telão e pedia a opinião dos palestrantes sobre elas.

O Alexandre Atheniense foi o que, de longe, mais falou, mostrando de forma resumida o que pode e o que não pode na web nas eleições 2010 (e que você confere aqui). Atheniense creditou o abrandamento da lei eleitoral esse ano ao "efeito Obama". Ele afirmou que uma grande agência de BH disse que a estratégia web de um candidato se limitaria a somente responder eventuais perguntas e defendeu um uso mais pró-ativo das redes sociais. "Presença online sem estratégia não deve existir", sentenciou.

O Bruno Foffman, que pouco falou, acredita que a campanha ainda é muito mais focada na TV. Para Tales, que falou menos ainda, o mais importante num primeiro momento é fazer pesquisas e, depois, definir a estratégia. "Para cada candidato há um tipo de estratégia em determinado tempo da campanha", afirmou.

A pergunta que não quer calar: Dá pra falar de marketing político sem falar do Obama? Segundo os palestrantes, infelizmente não, mas todos concordaram que é preciso "tropicalizar" as estratégias usadas na campanha democrata americana. Como não tenho notebook e nem smartphone, lá fui eu usar o SMS (parceria do Quinta Digital com a Takenet) para fazer uma pergunta. Primeiro, perguntei se poderia fazer uma pergunta pelo microfone. Como a palestra estava chegando ao fim, achei mais prudente enviar a pergunta por SMS mesmo. Perguntei sobre a opinião do Atheniense a respeito da Lei Azeredo. Depois perguntei "Cadê o Mário?", me referindo ao Mário D'alcântara, que seria o quarto palestrante do Quinta Digital no Interminas 2010, mas a ausência dele, que eu me lembre, não chegou a ser justificada. Infelizmente foi gravada apenas a primeira palavra de cada uma das minhas três perguntas.

Houve algumas críticas no Twitter quanto ao uso de SMS para perguntas em um ambiente com (quase) todos plugados na web. Eu achei a ideia interessante, mas confesso que me frustrei novamente (...e meus 20 minutos? rs), já que minhas perguntas não puderam ser feitas. E o tempo acabou, e era hora do Coffee Break. Ficou uma sensação de "quero mais" em mim naquela hora.

Pena que o desinteresse de uma parte do público era visível. Gil meio que deu um tapa de luva no pessoal, criticando o fato do @forasarney ser menos seguido que um técnico de futebol e convocando todos a serem webcidadãos. "Se você não é parte da solução, você é parte do problema. Não tem meio termo". Toma!!!

@liviadutra: "Não siga políticos no twitter, Persiga!"

Coffe Break

7ª Palestra: Uma Nova Forma de Pensar Planejamento - Ken Fujioka, Head of Planning da JWT

Que bacana a palestra do ken, viu. Ele conseguiu transformar um tema "chato", mas importante, em algo legal e muito mais importante do que eu pensava. Planejamento é tudo! E Ken começou (e terminou) sua palestra falando da sua avó, que sempre lhe pergunta o que ele faz e ele não sabe responder exatamente.

Vê-se que foi uma palestra bem "planejada". Ken disse que existem dois tipos de pessoas numa agência: as que ajudam e as que atrapalham. É difícil conceituar planejamento (dúvida eterna de sua avó). Para ele, planejamento é fazer a marca literalmente fazer, ao invés de só falar.

O que muda no mundo pós-digitalização? Problemas bem mais definidos, mais conhecimento sobre as pessoas, uso de "disparadores" (pontos de partida que geram "insights").

Cases youtube: Double Express Starbucks


Apple (crazy ones)



Outros cases: Nike Plus da americana RG/A e Fiat Mio, da AgênciaClick.
Virgin - Descubra as bandas retratadas na imagem. Uma ideia travestida de anúncio (anúncio de revista - offline, mas pensada em um mundo pós-digitalização).


HSBC e FlickR (concurso de fotos)


Explicou a diferença usando a parábola de dois pássaros: o pavão e o bowerbird. O pavão, para atrair a fêmea, se exibe. O bowerbird constrói enfeita o ninho. Tem marca pavão (que fala) e marca bowerbird (que faz). Antes o lema da comunicação era mudar o pensamento, muda-se o comportamento. Hoje é o contrário: muda-se o comportamento para mudar o pensamento. "Eu trabalho para que as marcas façam mais e falem menos", concluiu, com a foto da sua avó novamente no telão.

8ª Palestra: Avançando com Startups digitais no Brasil - Michael Nickals (SocialSmart) e Simon Olson (DFJ Fir Capital)

Na última palestra, os americanos com seus peculiares sotaques Simon e Michael falaram sobre investimentos em empresas start ups. Simon, como investidor, disse que avalia, dentre outras questões, na hora de investir em uma start up, o tamanho do mercado e a curva de crescimento da empresa. "O modelo de investimento para capital de risco é que você investe em dez empresas, cinco vão falir e dar prejuízo, três vão falir sem prejuízo e apenas duas vão dar lucro. O lucro de uma paga o prejuízo das cinco e o lucro da outra compensa todo o investimento", resumiu Michael, que inclusive criou a Social Smart Ventures, empresa que investe exclusivamente em start ups brasileiras. "A ideia é importante, mas sem os outros fatores você não vai conseguir levantar dinheiro", completou Simon. Michael citou dez elementos para se criar um ecossistema de start ups de sucesso: Gente (capital humano), cultura do empreendedorismo, Estado, Universidades, Empresas, Apoio, Capital, Demanda, Informação e Networking.

No fim, Gil Giardelli reforçou o convite para que todos participassem do Livro colaborativo do iMasters enviando seu artigo para o interminas@imasters.com.br. Mas acho que o prazo já estourou ;-(

Bom, foi isso. Saldo total muito bom. Aproveito para parabenizar ao Tiago Baeta, do iMasters, pelo evento e agradecer pela parceria que fez com o blog Mercado Web Minas para a cobertura do evento, desconto de 20% para os leitores do blog e sorteio de uma vaga. Espero que a Fernanda Braga tenha gostado também. Veja abaixo o video institucional do iMasters Interminas 2010:


Outros resumos:

Resumo do iMasters
Resumo da Sabrina Almeida
Resumo do Alexandre Atheniense
Resumo do blog Mediatizando-nos (muito bom blog, não conhecia!)
Resumo do blog Ecoar
Vídeos com entrevistas dos palestrantes do Interminas 2010